domingo, outubro 25, 2009

O invasor sonoro

O meu prédio parece um organismo vivo que pulsa todo o dia e (quase) toda a noite.
As pessoas não saem de suas casas mas, através de sons, conseguem invadir a minha. Constantemente. Como se entrassem sem limpar as solas no tapete da entrada, a todo o momento, sem serem convidados.

Uns são pesados ou gostam de caminhar com toda a força sobre os calcanhares, tipo "estou aqui e vou para ali e quero que saibas".

Outros adoram a discussãozinha com hora marcada, que envolve gritos e insultos com os devidos danos colaterais. Por vezes não se inibem de surgir à janela para insultar também o vizinho que ameaça chamar a polícia, num gesto cheio de classe: "Ai vais chamar a polícia, sua p*#%$? Vai, sua granda v#"$, vai para a p#$% que te pariu, cara$#*%".
Uns acham que estamos todos interessados em conhecer os seus gostos musicais: a batida, grave, sobe pelas paredes e agita-me o cérebro. Mas parece não incomodar ninguém mais.
Outros não conhecem aquelas acessíveis esponjinhas para colocar por baixo das cadeiras e restantes móveis que arrastam todo o dia e noite sem dó nem piedade.
As persianas são também usadas com a delicadeza de um troglodita.

Sim, vou mudar-me. Mas já me disseram que isto é igual em todos os prédios, gaiolas em que todos somos ratos.
Estou a considerar mudar-me para uma vila em que a população está decadente e não existe televisão. Ou no meio do monte.

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